18/10/2013

A esquerda e o leilão do campo de Libra


Nesse momento, há dois discursos disputando a primazia de representarem o mais legítimo pensamento de esquerda, em relação ao leilão que a Petrobrás fará para escolher quem vai a ela se associar para extrair o petróleo existente no campo de libra.


Um afirma que é entreguismo essa associação com empresas estrangeiras, que auferirão lucros fabulosos de nossas riquezas, deixando no Brasil apenas resíduos dessa riqueza gerada, cuja meta é chegar à produção de 1 milhão de barris/dia, até 2020.

O outro discurso diz que há algo fundamental nesse leilão, que precisa ser levado em consideração. Não há qualquer multinacional estadunidense e a tendência é a formação de um consórcio com chineses, muito mais interessados em estocar petróleo do que em auferir lucros, na atual conjuntura, o que propiciaria que esses lucros fenomenais seriam carreados prioritariamente à Petrobrás e, por extensão, à saúde e educação, já que essas receitas estão legalmente vinculadas aos dois setores.

Como não sou murista, declaro ter simpatia mais pela segunda do que pela primeira posição, embora entenda que a oposição entre ambas renda um bom debate. Apenas penso que a primeira é mais nacionalista do que de esquerda, na medida em que isola a petrolífera brasileira em um mundo bastante diferente daquele que se tinha na segunda metade dos anos 50 e parte da década de 60, do século passado. Hoje a Petrobrás precisa de parceiros na Venezuela, em Cuba, precisa de parcerias com a China dentro da nova visão diplomática do Itamaraty, que luta para encerrar o ciclo de mandonismo desmedido estadunidense pós II Guerra Mundial, daí evitar conflito com os asiáticos, os únicos no planeta a encarar essa parada dura.

Como bem lembra o professor Luiz Felipe D'Alencastro, a China passou a ser o segundo país com mais reservas auríferas do planeta, atrás apenas do EUA. Ao mesmo tempo, emitiu duro comunicado a respeito da pendenga de Obama com os republicanos no Congresso que pode levar o mundo à nova recessão, caso o tesouro dos EUA seja formalmente considerado caloteiro. Com ouro, a China pode tornar sua moeda forte; com petróleo, pode turbinar seu poderio bélico; com a maioria dos papéis da dívida pública dos EUA, tem meios para questionar essa hegemonia estúpida do Tio Sam. É um risco que fascina correr.

Quanto ao leilão, lembremos que estamos nos marcos do capitalismo, logo, qualquer tintura ideológica mais 'roja' que se queira dar no momento pode soar como tiro no peito da geração de divisas que nos permitam um salto de qualidade ainda maior na democratização do país, com educação e saúde decentes à disposição de toda a população brasileira. E isso é revolucionário.

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